A construção civil é uma área historicamente importante na economia brasileira, acompanhando praticamente todas as grandes oscilações econômicas. Com as perspectivas de recuperação do setor pós-pandemia da Covid-19, já se esperam números mais promissores em termos de produtividade e empregabilidade.
Apesar de toda essa importância, há um aspecto negativo que ainda é visto com muita resistência e preconceito por parte das construtoras e fornecedores: a reciclagem de resíduos na construção civil. O problema fica ainda mais evidente se pensarmos na quantidade de resíduos que esse setor gera.
Segundo a Abrecon, 50% de todo o material desperdiçado na construção civil são resíduos – o famoso “entulho”. Embora a reciclagem desses resíduos e a fabricação de novos materiais a partir deles já aconteça em certa medida, é preciso expandir esse pensamento visando uma atuação mais sustentável.
Neste conteúdo, mostraremos como isso é possível, explicando o funcionamento da reciclagem de resíduos no segmento e as principais vantagens envolvidas no processo. Continue a leitura e veja como aliar sustentabilidade e redução de custos na construção civil por meio da reciclagem.
Entenda a reciclagem de resíduos na construção civil na prática
Alguns documentos fundamentais para entendermos como funciona o tratamento de resíduos na construção civil são a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10) e a Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
A Resolução 307, em especial, estabelece a classificação dos resíduos da construção civil em 4 classes:
- Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis, como resíduos de construção, demolição e reformas de edificações;
- Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e gesso;
- Classe C: são os resíduos para os quais ainda não existem tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem;
- Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos ou quaisquer outros prejudiciais à saúde.
O processo definido pela Resolução 307 estabelece 5 passos para a reciclagem completa. São eles:
- Caracterização: identificação dos Resíduos da Construção Civil (RCCs) e das fontes geradoras na obra;
- Segregação: separação dos RCCs de acordo com a classificação do CONAMA;
- Acondicionamento: os resíduos devem ser devidamente acondicionados para evitar contaminação e desperdício;
- Transporte: deslocamento dos resíduos da obra até a usina de reciclagem;
- Tratamento e destinação final: onde acontece o processo de reciclagem em si, ou de destinação final adequada, conforme a classe a que o resíduo pertence.
A etapa de tratamento e destinação final é o “coração” do processo de reciclagem de resíduos na construção civil. Afinal, é nessa etapa que se encontram as tecnologias necessárias para colocar tudo em prática. As usinas de reciclagem são classificadas em fixas ou móveis. As usinas móveis são as mais rentáveis, embora mais complexas do ponto de vista tecnológico.
O processo de reciclagem consiste em triturar/moer os resíduos para que, em seguida, possam ser granulados e separados conforme sua utilidade. É na etapa de granulação que são obtidos os materiais reciclados, como britas, areias, bica corrida, entre outros. Falaremos melhor disso a seguir.
Aplicação de resíduos reciclados
Os resíduos reciclados nas usinas possuem aplicação direta na construção civil, retroalimentando a cadeia de produção e contribuindo assim para uma indústria mais sustentável a partir da economia circular. Os produtos mais comuns são:
- Bica corrida;
- Brita;
- Areia;
- Pedrisco.
A bica corrida é muito utilizada em camadas de sub-base e base de pavimentos flexíveis e pavimentos rígidos, devido à sua alta resistência e composição. A brita oriunda da reciclagem possui diversas aplicações, dentre elas: fabricação de concretos não estruturais, reforço de subleito de pavimentação de vias, aterros e acertos topográficos de terrenos e em assentamentos de tubos e canaletas.
A areia reciclada, por sua vez, é bastante utilizada em argamassa de alvenaria, cimentos de piso, tijolos e contrapisos. O pedrisco também é resultado do processo de britagem, podendo ser utilizado em concreto não-estrutural, pisos, bloquetes e assentamentos.
As vantagens da reciclagem na construção civil
As diversas vantagens da reciclagem de resíduos na construção civil ajudam a combater a resistência que ainda existe no setor a esse respeito. Em primeiro lugar, destacamos o fato de esse processo trazer sustentabilidade para o negócio. Hoje em dia, empresas que não trabalham de forma sustentável estão fadadas ao fracasso.
Sobretudo no ramo industrial e da construção civil – que provocam impactos diretos no meio-ambiente e consomem muitos recursos naturais – operar de forma ecologicamente correta é também um ato de cidadania. Para além disso, os processos ficam menos custosos e mais otimizados, tendo em vista o reaproveitamento de materiais na própria cadeia produtiva.
É importante destacar que o Brasil tem sistematicamente se comprometido com a agenda global da sustentabilidade. O Acordo de Paris, de 2016, foi um dos grandes sinais desse comprometimento, atestando que a economia brasileira vai se orientar pelo caminho da sustentabilidade pelos próximos anos. Portanto, em pouco tempo, estar alinhado com as melhores práticas será uma questão de sobrevivência para os players do setor.
Outro aspecto que vem obrigando a construção civil a se adequar às práticas sustentáveis é a busca por credibilidade. A obtenção da certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), por exemplo, é de grande interesse das indústrias, pois trata-se do medidor de sustentabilidade mais importante do mercado. A reciclagem de resíduos na construção civil é um dos principais critérios para a aquisição do selo.
A seguir, resumimos os benefícios desse processo para você se certificar da importância do trabalho sustentável nos dias de hoje:
- Diminuição de custos operacionais;
- Credibilidade junto aos clientes;
- Maior vida útil das obras;
- Obtenção de certificações como a LEED;
- Menor impacto nas vizinhanças da obra;
- Mitigação dos riscos regulatórios;
- Mais segurança para os trabalhadores;
- Mais segurança para a comunidade no entorno;
- Redução do desperdício e da quantidade de rejeitos;
- Economia de recursos como água e energia elétrica.
Vemos que muitas economias maduras como as da Europa ocidental e do Japão possuem um setor de reciclagem de resíduos bem estabelecido e extremamente ativo. Isso prova que a importância dada à reciclagem e à otimização de recursos é o que pauta e direciona o crescimento industrial no mundo. A construção civil brasileira está atenta a esse cenário e vem fazendo da sustentabilidade uma palavra de ordem.
Quer fazer parte desse cenário? Conheça 5 práticas ecologicamente corretas que você pode incorporar o quanto antes no setor!